Caso clínico 4
Uma fêmea de terrier com 7,5 kg foi apresentada numa emergência a meio da noite com relato de vómitos intermitentes e diarreia.
Hipotermia
Respiração superficial e rápida, a qual não foi considerada taquicardia ou arritmia
Aparência gravemente cianótica nas membranas da mucosa oral
Sistema cardiovascular comprometido, que a deixou em estado de alerta.
O tempo de recarga capilar (CRT) não foi medido devido ao grau de cianose.
​
.
.
.
.
Após um exame, constou-se:
+graves
Depois de admitida na clínica, a cadela sofreu convulsões e foi-lhe fornecida uma máscara de oxigénio. Surgiu a suspeita de intoxicação por chocolate, mas esta hipótese foi revogada pelos donos, fazendo-se pensar na possibilidade de ser doença de Addison, hemorragia de órgão interno com enfarte pulmonar ou cardíaco ou insuficiência cardíaca aguda.
Foi administrado:
Solução salina normal por via intravenosa;
Creme de trinitrato de glicerina a 2% aplicado na parte inferior do pavilhão auricular, como adjuvante na insuficiência cardíaca aguda que foi considerada primária.
.
.
A condição da cadela melhorou em duas horas e pela manhã seguinte o seu pulso já tinha melhorado, a cor da mucosa normalizou e o CRT foi de um segundo.
Uma análise ao sangue revelou:
hematócrito elevado,
leucocitose marcada com neutrofilia e eosinofilia, o que reflete um estado de desidratação.
​
A nível da bioquímica mostrou que houve uma subida da bilirrubina total e hiperglicemia leve.
Uma radiografia ao tórax e um exame ECG mostraram um aumento cardíaco do lado direito, mas sem evidência de congestão pulmonar ou patologia.
​
​
Sendo assim, foi prescrita uma cápsula de pimobendan 1,25 mg e administração subcutânea de 0,5 ml de amoxicilina / ácido clavulânico. O creme já referido foi reaplicado quando a cianose retornou.
​
Com isto, a situação clínica melhorou dentro de 1 hora, sendo continuada a fluidoterapia com solução de Hartmann por um período de tempo 12 horas.
Posteriormente a este intervalo, encontrou-se estável e a pedido dos donos recebeu alta com prescrição de comprimidos Synulox 50 mg 2x/dia, cápsulas Vetmedin 1,25mg 2x/dia e gel tópico Percutol para casos de recaídas.
Com isto, a sua situação pareceu manter-se normal, até que ela deu reentrada após 4 dias com vómitos e em colapso com as mucosas em icterícia, sendo confirmado os valores elevados de bilirrubina, anemia e hipocalcemia. Não havia evidência de hemorragia interna e foi detetada hemólise intravascular.
Foi medicada com metoclopramida intravenosa e dexametasona em quantidades imunossupressoras, já que se suspeitava de anemia hemolítica autoimune. Manteve-se a fluidoterapia. Fizeram um teste de Coombs e o resultado foi negativo.
Infelizmente, os donos não puderam pagar mais o tratamento contínuo, logo, a pedido deles, recebeu alta, apesar do mau prognóstico.
Mais tarde, fizeram-se algumas questões aos mesmos e chegou-se à conclusão que foi um caso de intoxicação por chocolate, pois a filha do casal acabou por admitir que habitualmente oferecia bombons e chocolate de culinária à patuda, e que havia um histórico de vómitos e diarreias ao longo de várias semanas.
A partir deste conhecimento, a cadela melhorou e dentro de alguns dias teve uma recuperação total, mesmo sem tratamento adicional.
Apesar de muitos dos sintomas deste caso clínico serem típicos da intoxicação por teobromina, a falta de evidência inicial em relação à ingestão de chocolate levou ao mal-entendido. A intoxicação por teobromina é então a causa mais provável, visto que a recuperação da terrier foi possível apenas com a interrupção da ingestão de chocolate, sem nenhum tratamento adicional.